segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Carta a um jovem ator

O homem foi feito para sonhar e criar ilusões. Por isso os artistas são, em geral, mais felizes que os outros. Criam mais. Por isso tem tanta gente aqui querendo faze teatro. Em que grau de ilusão você prefere viver? Essa é a sua única escolha. e, a partir daí, tome toda a responsabilidade pelos seus atos. Você só faz o que quer. Senão faria outra coisa. Papai e mamãe foram dormir, estão, talvez, engendrando outro neném. Você está sozinho e isto não é mal. Nem Deus teve pai e mãe.
Abaixo, conselhos práticos para ser feliz. Sempre lembrando que o bom conselho é aquele que a gente não tem que seguir.
1. Viver cada dia como se fosse o último. Já fizeram um ótimo filme sobre esse assunto. Um filme de jovens, A Sociedade dos Poetas Mortos. Carpe Diem. Sim, porque cada dia pode ser o último. Por exemplo, cada filme que faço pode ser o último. As produtoras pdoem não querer mais botar dinheiro, eu posso não ter mais vontade de fazer filmes e posso, naturalmente, morrer antes das filmagens. Viver cada dia como se fosse o último é, na verdade, viver bem enquanto se pode. Tirar de cada momento o máximo que tiver para dar. Como eu estou fazendo com este momento aqui. Viver cada dia como se fosse o último não é ficar pensando na morte. É prezar a vida. Saber de todos os prazeres que ela pode dar e aproveitá-los. Avidamente.
2. Respeitar os seus desejos. a máquina de desejar do homem é muito frágil. Enguiça com muita facilidade. Se você me convida para tomar um sorvete e eu digo "Ah, não quero não", é capaz de você desistir de tomar o sorvete. E este será um sorvete a menos na sua vida. Porque desejar é viver. O desejo é a fonte de toda saúde, de toda produtividade. Ele tem que ser cuidado, respeitado. O menor desejo de um homem deve ser atendido o mais depressa possível. Se contrariamos muito alguém, por exemplo, obrigando-o a acordar todos os dias às 6h da manhã para ir trabalhar naquilo que não gosta, a máquina quebra. Depois de algum tempo, esse homem não deseja mais nada. E, não desejando, deseja o mal. Não deixe isso acontecer com você. Todo mundo tem que fazer o que gosta. Todo mundo tem que ganhar dinheiro no final do mês para pagar suas contas. O Herói Moderno, o sábio, o gênio moderno, é aquele que consegue unir essas duas coisas. Esse deveria ter as suas mãos beijadas nas ruas.
3. Mas seja humilde. Com o grau elevado de auto-estima, porém humildade. Humildade é sinônimo de inteligência. O homem que sabe, sabe que não sabe. Já o burro ignora sua burrice. Cuidado com os burros.
4. Melhor se arrepender de ter feito do que de não ter feito. Exemplo simples: garota ao seu lado. Você tem vontade de agarrá-la. O máximo que pode acontecer é ela te dar um tapa, se você agarrá-la. Se não, o mínimo que pode acontecer é você ficar batendo com sua cabeça na parede de arrependimento. Diante da dúvida, não fazer é uma atitude antiga, do século 20. Chama-se a cautela. Uma atitude careta, por assim dizer. Uma coisa boa para as crianças.
5. Você deve terminar tudo aquilo que começa. Um curso um namoro, nem de sair do filme no meio eu gosto. Terminar aquilo que se começa é o segredo, que ninguém nos ouça, da produtividade e, portanto, da riqueza. Somente terminando aquilo que você começou é que você vê se era um lixo ou uma maravilha. Começar sem acabar é depressão. Você deve ir até o fim. Até a vida.
6. Tudo é sexo. Gente, essa eu não preciso explicar. Sexo é a força da qual emana tudo. Talvez seja o sexo que une os átomos, tornando a matéria coesa. Até hoje acho que, quando um homem e uma mulher enfiam-se um dentro do outro, a Terra treme. Os jovens de hoje dão menos importância ao sexo do que os de minha geração. Não vamos analisar isso. Mas vamos acabar com isso. Sexo é uma forma de conhecimento absolutamente notável. Somente na cama as pessoas revelam como realmente são, é curiosíssimo, deslumbrante. Muito educativo. O amor é o efeito colateral do sexo. E também a paixão, embora esta tenha maior transcendência. Se existe algo na vida que desperta sentimentos modificadores, isto é o sexo.

Pelo cineasta Domingos de Oliveira, na Bravo! desse mês



Um comentário:

Anônimo disse...

hum... carta a uma jovem escritora...