quinta-feira, 29 de maio de 2008

Sobre um filme que vi há algum tempo

Santiago, documentário de João Moreira Salles, é um dos filmes mais bonitos que já assisti. Tudo que li sobre ele depois de ter assistido, fala sobre como João mostra no filme a maneira como se constrói um documentário e de como ele mudou sua visão sobre isso desde quando captou as imagens do filme, há treze anos, até hoje. Apesar de isso estar bem claro na tela, não foi o que mais me chamou a atenção.


Bom, pra quem ainda não ouviu falar no filme, Santiago é sobre o mordomo argentino de mesmo nome, que trabalhou por trinta anos na mansão da família de João Moreira Salles, na Gávea. Um homem extremamente culto, que falava seis línguas e rezava em latim. Fascinado pela história da aristocracia, da nobreza e das dinastias que passaram pelo mundo, ele costumava ir a bibliotecas e fazer anotações, mas sem jamais deixar de fazer seus próprios comentários, conseguindo reunir trinta mil páginas com a história das famílias tiveram por séculos o poder nas mãos. Tudo belamente organizado em blocos de folhas idênticas, amarradas com um fitas vermelhas que ele mandava vir de Paris. Cada bloco trazia referências de quanto tempo ele levou para reunir as informações (algumas famílias foram estudadas por quase 50 anos), sobre as cidades onde estava quando fez a pesquisa e até comentários históricos sobre o que acontecia na época.


Apesar de João deixar claro que durante as filmagens manipulou o que Santiago diria, seus gestos e ações, mostrando-o como um personagem criado pelo diretor, a essência do mordomo permanece e pode ser percebida.


Apaixonado pelas artes e pela música, demonstrava extremo respeito pelos grandes artistas, a ponto de usar um fraque para tocar Beethoven ao piano enquanto todos estavam dormindo e não havia ninguém por perto para observar.


Mas o ponto mais profundo abordado, e que mais me emocionou, é a questão da memória. Santiago diz que tem uma ótima memória, não esquece as línguas que aprendeu na infância, mesmo não tendo com quem praticá-las. Recita poemas de cabeça e parece lembrar de cada um dos personagens sobre os quais escreveu e de cada momento vivido, desde sua infância com a avó ate às grandes recepções na mansão dos Moreira Salles.


Uma pessoa extremamente interessante que, no entanto, seria esquecida se não houvesse se transformado no tema do documentário, assim como todos os outros sobre os quais escreveu. Mesmo parte de famílias que determinaram os rumos do mundo, muitas daquelas pessoas foram perdidas no tempo e suas histórias de amor, guerra, traição, conquistas e desonras ficaram para trás.


O que fazer, então, para ser lembrado? Santiago pode ser um exemplo. Viveu com paixão, sentiu o mundo ao seu redor, tocou castanholas ao som de música clássica e suas mãos dançaram em um ritmo que parecia ser determinado por sensações que nasciam em sua alma.


Por outro lado, o diretor fala da sabedoria de saber ouvir o que o outro tem a dizer (trata da relação entre diretor e personagem em um documentário e da imposição da visão e das idéias do diretor). Ele próprio assume, envergonhado, que não teve essa habilidade ao fazer as filmagens e acabou tentando fazer com que Santiago incorporasse uma imagem que era a que Joãozinho tinha dele na infância, um personagem pré-construído. Perdeu a oportunidade de se aproximar da verdadeira pessoa por trás do mordomo.


É o que acontece quando deixamos de receber as idéias do outro com a mente e o coração abertos, presos à conceitos só nossos, que, orgulhosos, não temos coragem de deixar de lado.

Reply

... até hoje ninguém encontrou essas respostas. Nossa vida é assim, uma dúvida infinita. Se não fosse, não existiria busca, e sem a busca o que seria de nossos anseios, quais seriam nossas motivações?
Talvez as perguntas sejam o melhor refúgio, por mais que nos atormentem.

Jazz no parque



Domingo acontece a segunda edição do Telefônica Open Jazz, no Parque Villa-Lobos, com apresentação dos ganhadores do Grammy Macy Gray e Herbie Hancock. Uma ótima oportunidade para quem quer ouvir boa música, sem pagar nada, em um ambiente bucólico e rodeado por pessoas bonitas.
Digo isso pela minha experiência na primeira edição do evento, em novembro do ano passado, com show da Diana Krall. Foi uma manhã de domingo muito agradável, apesar do sol escaldante e da falta de sombras. Mas tudo bem, era verão, provavelmente neste final de semana o calor estará um pouco mais ameno.
O início dos shows está marcado para às 15h. Só para constar, os dois se apresentaram separadamente esta semana em São Paulo, com ingressos que chegavam a R$400,00.

Para saber mais, clique aqui
Para ouvir Herbie Hancock e Macy Gray

Telefônica Open Jazz 
Quando: domingo (1º de junho), a partir das 15h 
Onde: Parque Villa Lobos, Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1655, Pinheiros , São Paulo 
Quanto: grátis 


quarta-feira, 28 de maio de 2008

21h

Só para variar, esse é mais um post escrito na solidão da espera de uma amiga.
Mas hoje~não consigo escrever nada. Não porque me falte assunto ou porque me faltem idéias. Pelo contrário. Minha mente está fervilhando a ponto do meu corpo se sentir incapaz de suportar o peso dos pensamentos.
O que me falta neste momento é a capacidade para organizá-los. E nessa desorganização as idéias passam na minha frente, pairam leves como beija-flores e, velozs como eles, voam para longe antes que eu possa agarrá-las.
Eu podia escrever sobre como o romance Senhora, de José de Alencar, que li aos 15 anos, influenciou a minha concepção de amor e minha vivência do sentimento.
Poderia escrever sobre quais foram os maiores elogios que já recebi na vida, por mais que não parecessem elogios. Poderia escrever sobre como me emocionei ao ver o álbum montado por uma amiga, que relata sua vida e a formação de sua personalidade, influenciada pela religião, mas com conceitos próprios sobre tolerância e aceitação da individualidade, cheia de idéias próprias e independente, mas coerente com sua educação.
Ou sobre como outra amiga que está tão longe permanece presente a cada dia, mas mesmo assim me faz uma falta enorme, que chega a me levar às lágrimas. Ou ainda sobre um livro de cartas de Rilke, que estou lendo e reforçou minhas idéias polianicas de como a solidão, a tristeza e o sofrimento devem ser encarados comalegria, pois são os momentos que nos proporcionam maior oportunidade de crescimento e nos engrandecem.
Mas talvez nada disso seja tão relevante. Ou talvez o ambiente tumultuado em que estou e o pequeno espaço destas páginas de papel não sejam os mais adequados para desenvolver estas idéias.
Por isso, paro por aqui e espero...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Eu tenho a força!

Eu odeio ser obrigada a perceber que o meu corpo me domina e é mais forte do que eu. Quando ele está saudável e de bom humor, tudo bem. Mas parece que às vezes quer mostrar essa força e eu me sinto impotente.

É o que está acontecendo agora... dor de garganta, um peso no ombro e uma moleza incomum. Vontade de melhorar e nada a fazer. Parece uma vingança do corpo por eu ter tentado provar que poderia conseguir dominá-lo. 

O maior desentendimento entre mim e meu corpo é a respeito do sono, de ter que dormir. Eu acho isso um desperdício de tempo. Poderia aproveitar para fazer tantas coisas... ler, ver um filme, escrever, sair, conversar com as pessoas... mas ele insiste em querer descansar. E ontem resolvi mostrar pra ele que poderia agir de acordo com as minhas convicções. Consegui vencer o sono, que geralmente me vence com facilidade e fui dormir bem tarde. Ele começou me punindo com um soluço insuportável. E hoje isso... 

Só me resta agora obedecê-lo e ir dormir cedo. Droga...

O que seria de mim sem meu moleskine?

Censurado...

Laila faz um apelo (ou um alerta) a todos

...menos a quem ela ama...


Por favor, não se apaixone por mim. E se me amar, não espere nada em troca. Eu não vou te corresponder. Eu posso até gostar da sua companhia. Gostar de conversar com você, te chamar para ir ao cinema, para ir ao teatro, para tomar uma cerveja ou um café. Mas não confunda as situações. Eu só estou interessada nas suas idéias, nos seus pensamentos, no alimento intelectual que você pode me proporcionar. Você me estimula intelectualmente e é só isso que eu quero, só isso que eu espero e só isso que posso oferecer.

Você não imagina o risco que corre se deixar transparecer que tem algum interesse por mim. Eu sou manipuladora e vou começar a usar isso a meu favor. Não, não tenho a intenção de machucar ninguém, mas isso é um instinto mais forte do que a minha razão. Eu sinto prazer em conquistar, em saber que sou admirada. Mas sentir o desejo por mim é a única coisa que quero. É uma via de mão única. Posso até dar a entender em algum momento que é reciproco, mas não é. Eu sou independente, individualista, não quero me envolver com ninguém, mas para alimentar essa minha segurança, preciso de pessoas como você, que vão me fazer sentir bem e especial. E não pense que só com você é assim, existem outros, já existiram outros... os que ficam, os que vem, os que vão, mas depois voltam.

Não quero que fique com uma má impressão de mim. Se estou te falando isso, é porque te quero bem. É um alerta, pois a situação foge ao meu controle, então é você que precisa se defender sozinho. Para isso, estou te dando as armas.

Eu não quero amor, não quero me sentir dependente e impotente diante de algo que vai ser mais forte que eu e me controlar. Eu gosto e preciso ter o controle da situação. Então, se você aceita essas condições, melhor para nós dois. 

Mas não tenha esperança de que pode me fazer mudar de opinião. Já tentaram fazer isso... É como na música Toxic Girl, do Kings of Convenience: "You're waiting in the shadows for a chance, because you believe at heart, that if you can, show to her what love is all about she'll change. She'll talk to you with no one else around, but only if you're able to entertain her, the moment conversation stops she's gone again".

Agora você já sabe, espero que entenda.


Laila

domingo, 25 de maio de 2008

Another life...

Eu queria ser o Lou Reed...

Eu vou!

É mesmo?

What philosophy do you follow?


You scored as a Existentialism

Your life is guided by the concept of Existentialism: You choose the meaning and purpose of your life.

“Man is condemned to be free; because once thrown into the world, he is responsible for everything he does.”
“It is up to you to give [life] a meaning.”
--Jean-Paul Sartre

“It is man's natural sickness to believe that he possesses the Truth.”
--Blaise Pascal

More info at
Arocoun's Wikipedia User Page...

Existentialism


100%

Strong Egoism


100%

Justice (Fairness)


95%

Hedonism


90%

Kantianism


90%

Utilitarianism


55%

Apathy


20%

Nihilism


15%

Divine Command


0%

Senhora dos Afogados


Para colocar na agenda, primeiro por ser Nélson Rodrigues e segundo por ser uma montagem do Antunes Filho.


Quando fui assistir, ouvi reclamações de quem estava comigo, de que a montagem tinha descaracterizado Nélson, que não tinha a cara de sua obra. O próprio Antunes contou que houve comentários de que faltou calor a montagem. 


Se o espectador espera encontrar algo parecido como a série global "A vida como ela é", com certeza vai se decepcionar também. O  erotismo explícito e a sensualidade apelativa não são levados ao palco do Sesc. Não é uma mera comédia de costumes, é cheia de camadas e significados.


Apesar da montagem não parecer com o que banalmente se costuma imaginar de Nélson Rodrigues, a essência dele continua ali. Adultério, incesto, relações familiares tumultuadas, desejos que são reprimidos pela sociedade, mas acabam sendo mais fortes e são realizados... Enfim, a essência humana, que é má e camuflada, mas, cedo ou tarde, se revela.


Antunes quase não usa cenografia em suas montagens, coloca no palco apenas elementos de cena essenciais à ação. Para ele, tão importante quanto o texto do autor e a atuação dos atores, deve ser o espaço deixado para a imaginação do espectador. É ela que preenche o palco e faz com que um espaço aparentemente vazio se transforme em um cenário completo e cheio de vida. Mas para isso, o espectador precisa estar aberto e disposto. A expectativa pré-definida o afasta do espetáculo. Para ver sem preconceitos e com a mente aberta.


Até 27 de julho no Teatro SESC Anchieta - Rua Dr. Vila Nova, 245 - Tel: 3234-3000

Sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 19h - 90 minutos - R$ 5,00 a R$ 20,00

Bravo!

Confira a minha matéria publicada na Bravo! deste mês, sobre a dramaturga Silvia Gomez, que escreveu a peça "O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade", em cartaz até julho no Sesc Consolação. E não deixe de assistir a peça, que, conforme o próprio Antunes Filho definiu, é genial. E a Silvinha é uma fofa, super sensível e acredita no que faz. Foi ótimo poder fazer a minha primeira matéria a com pessoas tão especiais quanto ela, o Antunes e o Lenate. Uma honra para mim.
O mês já está acabando, mas ainda dá tempo de comprar a Bravo! nas bancas. A edição está maravilhosa, com o Ney Matogrosso em uma bela capa e em uma matéria sobre vencer o tempo, ilustrações lindas para falar de Moby Dick, o divertido e inteligente catálogo "Enciclopédia da vida terrestre" e um texto contagiante sobre a persistência de Glauber Rocha. Imperdîvel!