sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Dulcinéia na Mercearia

Unir arte, boemia e integração social. Lindo e delicioso, né?

Um exemplo disso é o projeto Dulcinéia Catadora, que até sábado, dia 2, estará na Mercearia São Pedro, na Vila Madalena, fazendo as capas para a nova edição do livro Antologia Bêbada. Oraganizada por Joca Reinera Terron, a publicação traz 17 contos que se passam na mesa do bar, de autores (e boêmios) como Xico Sá, Marcelino Freire, Antonio Prata, Andréa Del Fuego, André SantÁnna, Bruno Zeni, Chico Mattoso, Clarah Averbuck, Índigo, Ivana Arruda Leite, José Alberto Bombig, Matthew Shirts, Nelson de Oliveira e Ronaldo Bressane, entre outros.
O livro foi dividido em três partes e cada uma pode ser comprada por R$ 5,00. Segundo o blog da Ivana, também dá pra comprar na Galeria Vermelho (R. Minas Gerais), no Sebo do Bac (Pça. Roosevelt), na tenda d´O Autor na Praça (feira da Benedito Calixto) e na Livraria Realejo (em Santos).

Acesse a página do projeto:
Dulcinéia Catadora

Vá a Mercearia:
Rua Rodésia, 34 - Tel 11 3815-7200

Ps: A foto é da Antologia do meu amigo Lucas Pretti, que foi comigo ao lançamento na terça-feira, em uma noite muito divertida e agradável.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sobre o que queremos (e podemos) ser

Uma criança nasce. Ela pode ser como uma bola de argila, pronta para começar a ser moldada aos poucos, forma por forma, relevos e depressões, até gerar algo antes indefinido. Mesmo depois de pronta a imagem e seco o barro, ela não permanece intacta, pois um esbarrão, uma queda, ou o próprio tempo, poderão criar novas marcas e desgastes imprevistos, que passarão a fazer parte dela.


Ou então o bebê pode ser como um balão de gás. Pequeno e aparentemente flexível, aos poucos, com o ar inflado em seu interior, adquire sua forma, que já estava pré-definida. Por mais que se aperte, torça ou puxe, seu formato final é aquele e não irá mudar.


Imagine agora uma família que vive na periferia. São quatro filhos, três homens e uma mulher, a mãe é ausente e o pai um ladrão de carros. Esses quatro filhos são como a bola de argila ou como o balão de gás? Será que o destino dos quatro já está previsto e eles não poderão mudar, como o balão, que muda de forma quando apertado, mas depois volta ao original? Eles cresceram vendo o pai roubar carros, em um lar desfeito e com valores fora dos padrões. Isso torna a degradação um caminho sem volta para os quatro?


Ou será que é possível que tenham perspectivas além daquele mundo em que vivem e consigam se moldar de formas diferentes, como a argila? Quão fortes eles são para ultrapassar os paradigmas que os cercaram durante toda a vida? E, mais importante, será que eles querem mesmo mudar alguma coisa?


Até onde essas pessoas conseguem chegar você descobre no espetáculo Nossa Vida não vale um Chevrolet, com texto e direção do Mário Bortolotto, que estréia sexta-feira, dia 2, à meia-noite no Espaço dos Parlapatões, em uma curtíssima temporada de quatro apresentações.


Olhar para uma família de criminosos da periferia parece distante e chega a comover. Coitados, né!? Mas essa não é uma história sobre problemas sociais. Tão longe, mas tão perto... Muito mais do que você imagina... E não espere um final feliz.

Onde: Espaço dos Parlapatões - Praça Roosevelt, 158

Quando: Estréia dia 01 de agosto, a meia-noite

Quanto: R$ 20,00


Texto, Direção, Sonoplastia e Iluminação: Mário Bortolotto

Elenco: Fernanda D´Umbra, Laerte Mello (Nelson Peres), Mário Bortolotto, Gabriel Pinheiro, Francisco Eldo Mendes, Paulo Jordão, Thiago Pinheiro e Helena Cerello

Operação Técnica: Marcelo Montenegro

Direção Técnica: Régis Santos

Produção: Dani Angelotti

Retornável

Como comentei em um dos posts anteriores, eu comecei a trabalhar em uma revista feminina que fala bastante sobre sustentabilidade, responsabilidade ambiental e social. Ler, falar e ver isso o dia todo acaba me influenciando. Todo mundo fala sobre o assunto, todo mundo sabe o que tem que ser feito, mas a gente nunca para pra pensar se a gente mesmo tá fazendo alguma coisa. Já comentei também que não acho que o mundo vai melhorar, mas nem por isso a gente precisa ajudar a acabar com ele mais rápido. Pequenas coisinhas que parecem nada e nem dão trabalho pra fazer ajudam também a deixar a consciência mais tranquila.

Uma coisa legal, pra começar, são as sacolas retornáveis. As sacolinhas de plástico são um problema no lixo, demoram para se degradar na natureza e são pouco aproveitadas na reciclagem. E são milhões descartadas por dia, já que todo lugar que a gente vai, quitanda, farmácia, livraria, locadora, banca, shopping, supermercado, recebe pelo menos uma delas. Então resolvi aderir e não aceito mais sacolas em nenhum lugar, a não ser que não tenha jeito mesmo. Eu tenho algumas sacolas de lona lindas em casa, que ganhei em eventos, nas elas não são muito práticas pra levar, porque mesmo dobradas são volumosas. Então achei uma bem legal no Pão de Açúcar, preta, de nylon, que é leve, dobrável e vem com uma capinha para guardar, fica parecendo um guarda-chuva e dá pra levar na bolsa ou deixar no carro (o que não é o meu caso, já que não tenho carro). Achei super prática porque cabe bastante coisa e não preciso ficar carregando aquele monte de sacolinhas que enrolam na mão e prendem a circulação nos dedos, e não fico afogada naquele mar de plástico quando chego em casa. Agora tudo o que eu compro jogo ali dentro. Ah, e claro que se a compra é pequena, uma revista, um remédio ou algo assim, dá pra guardar direto na bolsa, no bolso ou mochila. 

Essa custa R$ 11,90.

Era uma vez...

E fico imaginando a minha vida se eu fosse morar em um sobradinho de vila, que teria uma sala no térreo com um tapete felpudo, um sofá aconchegante e convidativo e uma estante até o teto cheia de livros, DVDs, CDs e objetos de arte, sobre os quais eu saberia a origem, o conceito e o por quê. E nós teríamos uma cozinha americana - sim, nós, porque haveria ali um homem grande, magro e com os músculos definidos, que caminharia pelos nossos tapetes felpudos e pisos de madeira descalço, sem camisa, e com uma daquelas calças de pijama meio larguinhas, ou com uma cueca boxer. E ele iria gostar de cozinhar comigo numa sexta-feira a noite, usando todos os nossos apetrechos cromados, picando um maço de cheiro-verde e colocando a massa na água borbulhante, enquanto tomamos um malbec. E estariamos ouvindo um bolero e depois Ella & Louis. Ah! Ainda bem que a moça que limpa a casa vem amanhã, assim não precisamos lavar os pratos (as panelas já estão limpas, porque eu não gosto de cozinhar na bagunça e vou lavando tudo depois de usar) e podemos começar a assistir um filme e fazer amor, e dormir abraçadinhos e quentinhos nos nossos lençóis brancos. E quando acordamos de manhã a mesa do café está posta com uma jarra de suco de laranja bem amarelo e pães fresquinhos e meu mamão com aveia e mel. Eu dou uma olhada na Folha e ele no Estadão, paro na Ilustrada e ele no Economia&Negócios, depois a gente troca e eu leio o Caderno 2. E já decidi o que vamos fazer no final de semana. Tem uma peça ótima em cartaz no Sesc Consolação, e um filme que quero muito ver. Mas vamos no Reserva Cultural, porque a gente pode tomar um café antes do filme. Então a programação ficou assim: a gente almoça no Masp e aproveita pra ver a exposição de fotos que ele quer. Caminhamos até a Fnac e ficamos olhando os livros e CDs até a hora do filme começar do outro lado da rua. Depois vamos para o Sesc. Vou ligar pro pessoal pra ver se querem assistir a peça ou se nos encontramos depois para tomar uma cerveja.


No domingo de manhã, vamos dar uma volta de bicicleta no Villa-Lobos e, depois, ao churrasco na casa dos pais dele. Uma soneca no sofá de casa no final da tarde e no começo da noite pedimos uma pizza e assistimos a mais alguns episódios daquela série em DVD... Durante a semana a mesma rotina: tem dia que ele chega tarde, tem dia que sou eu que chego. Como foi seu dia? E o novo projeto? Entrevistou aquele escritor? Computador, TV, livros, a viagem de férias, a viagem de trabalho. Vontade de tomar um café de madrugada, vamos até a padaria? Hum, e aquela banana assada com canela e sorvete de creme? Hoje ele quer o frango com curry, que deixa a casa com um cheiro de oriente e sexo. Jazz, jazz, jazz. Dançar junto na cozinha e um pouco de Rolling Stones de manhã para acordar. Essa semana foi muito corrida, você não me deixou dormir nenhum dia antes das 3h. Avisa sua mãe pra não ligar no sábado de manhã porque quero dormir até acordar. Depois a gente pode almoçar na Vila e passar a tarde sentados em um bar, dando risada e pensando no que temos pra fazer na semana que vem. E começa tudo de novo...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Como gastar seus últimos R$ 60 reais

Compre um merlot, um gouda e um Dostoiévski e volte pra casa lendo no ônibus para comemorar o final de mais um dia feliz.

domingo, 27 de julho de 2008

Poema em linha reta

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida…


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Outro Santiago

"É preciso ser jovem e já  saber, ao invés de estar velho com um currículo cheio  de bons exemplos. Mude sua vida, acorde cedo, vá  correr um pouco. Jovem e cheio de vida, a energia  que você desprender do corpo irá voltar de alguma forma e os ciclos, mesmo que se repitam, não acontecem sempre da mesma forma. Renove-se. Dance, mude o ritmo, escolha valsa em vez do batidão em que você é obrigado a entrar todos os dias. Decida-se. Seus sonhos estão no agora e não no  depois; depois, você não os realizará e antes, bem, antes só dá para lembrar. Decida-se por lembrar das escolhas ao invés de lembrar dos sonhos que você poderia ter sonhado. Misteriosos, às vezes, eles vêm e vão também de forma infortunia. Nem pense em lamentá-los, melhor, não pense. Ou você age agora, ou depois você sentará em uma cadeira, sentirá o vento em seu rosto e poderá pensar o quanto você estaria diferente se acaso seguisse seus desejos. Mesmo sabendo que você é feliz, já que podemos ser felizes de muitas formas, você terá o desprazer de possuir a memória, que o lembrará de todos os sonhos de que você abriu mão para estar aqui. A diferença é essa, todos podemos ser felizes, mas se seguirmos nossos sonhos, nós não teremos a recordação de não tê-los seguido. A felicidade não lembra da tristeza, mas nossa tristeza poderá apagar o brilho da nossa felicidade e contaminar nosso coração que anseia, sempre, pelas razões humanas inexplicáveis de ser feliz ganhando dinheiro. Não é o dinheiro, o amor, o sexo ou a TV a cabo. Se acaso pudesse lhe contaria, mas não posso dizer sobre o que não fui, posso apenas me ressentir e tentar fazer com que você não cometa os mesmo erros que eu, Mark. Siga o seu sonho, e, por favor, mude sua vida. Está muito pacata, garoto."

(Mark Marine, em Velho Santiago)

Em homenagem a um amigo recente

Chanson D'Automne

(Paul Verlaine)


Les sanglots longs

Des violons

De l'automne

Blessent mon coeur

D'une langueur

Monotone.


Tout suffocant

Et blême, quand

Sonne l'heure,

Je me souviens

Des jours anciens

Et je pleure.


Et je m'en vais

Au vent mauvais

Qui m'emporte

Deçà, delà,

Pareil à la

Feuille morte.