sábado, 7 de junho de 2008
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Encontros Bravo! Fnac
terça-feira, 3 de junho de 2008
Trabalhar é amargo mas os frutos são doces...
Pra essas pessoas não existe domingo deprimente e nem segunda-feira chata. Elas não começam a contar os dias pra chegada da sexta-feira logo na segunda. Não contam os minutos que faltam pra hora de almoço e nem pra hora de ir embora. Simplesmente porque estão sentindo prazer no que fazem. O trabalho que fazem as satisfaz e não é feito com esforço, nem por obrigação.
Tudo bem que é ótimo ver o saldo da conta com vários zeros no final do mês e nem todas as profissões rendem salários polpudos. Mas será que o tédio e a raiva que se passa todos os dias, pelo menos por oito horas, valem isso?
Durante a minha vida, que nem é tão longa assim, conheci algumas pessoas apaixonadas pelo trabalho. Lembro muito dos professores (já que até agora mais de 80% da minha vida foram passadas em salas de aula). Os que transmitiam esse amor pelo que estavam falando tinham muito mais credibilidade e foram os que mais conseguiram me ensinar, os que conseguiram deixar um pouquinho do que queriam dizer em mim e dos quais não esqueço até hoje.
Depois, no trabalho, vi que as pessoas apaixonadas pelo que faziam eram as que mais conseguiam incentivar suas equipes e fazê-las acreditar em um objetivo. Alguém que não acredita do fundo do coração no que está dizendo, fala, fala, fala, mas não consegue contagiar ninguém com nenhuma idéia. Ao contrário, por mais que tente, acaba deixando transparecer sua indiferença, má vontade ou até raiva por ter que fazer ou falar aquilo.
Todo mundo tem alguma paixão na vida. Algo que queira muito fazer e que proporcione um grande prazer. E com certeza é isso que a pessoa vai fazer melhor; melhor do que tudo o que já fez e melhor do que outros que fazem aquilo sem tanto amor. Pode ser apertar parafuso, arar a terra, concertar computador, fazer discurso, calcular, cuidar de criança ou pintar quadros. Mas a maioria das pessoas não acredita nelas próprias, prefere achar mais importante o que o outro pensa ou fala e tem medo de se arriscar. Afinal, o ser humano tende a buscar a segurança. Principalmente hoje, nessa “selva capitalista”, onde a vida não é fácil pra ninguém. Mas acredito que acaba valendo a pena e a recompensa vem.
Hoje, li na edição de junho da TPM uma entrevista muito bacana com a Nina Becker, estilista, cantora e vocalista da Orquestra Imperial, em que ela fala sobre isso:
“Descobri que podia ter um trabalho que só me desse prazer. Ainda fico passada quando penso , ´cara, vivo de tocar´”. (...) A maior novidade na vida dela é ter começado a compor. “Eu tinha a maior travação com isso. Achava que era só para pessoas geniais. Mas uma hora pensei: também posso fazer, foda-se”.
Tudo bem que ela tinha a casa da mãe para morar e não passou fome. Mas, como define o dicionário Huaiss, paixão é “o sentimento, gosto ou amor intensos a ponto de ofuscar a razão; grande entusiasmo por alguma coisa; atividade, hábito ou vício dominador”. Maior que a razão, ela nos impulsiona a encarar e ultrapassar qualquer desafio e perto dela as maiores dificuldades parecem pequenas.Bom, acho que cada um faz suas escolhas. Tem gente que prefere passar a vida fazendo algo que não suporta enquanto conta os dias pra chegada das férias e as moedas para gastar depois da aposentadoria. Eu prefiro os que não vêem os dias passarem e sofrem por pensar na possibilidade de não poderem fazer o que amam até o último dia de suas vidas. Espero que consiga ser um deles e que um dia alguém olhe pra mim e diga: “essa aí ama o que faz”.
domingo, 1 de junho de 2008
A Laila é uma gata?
Ode aos gatos
Artur da Távola
Nada é mais incômodo para a arrogância humana que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece. O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias de amor. Só as saudáveis.
Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Só aceita relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de traiçoeiro, egoísta, safado, espertalhão ou falso.
“Falso”, porque não aceita a nossa falsidade e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e o dá se quiser.
O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é esperto. O gato é zen. O gato é Tao. Conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem o ama, mas só depois de muito se certificar. Não pede amor, mas se lhe dá, então o exige.
O gato não pede amor. Nem dele depende. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém, sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano, mas se comporta como um lorde inglês.
Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa a relação sempre precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Vê além, por dentro e avesso. Relaciona-se com a essência.
Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende ao afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando esboça um gesto de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é muito verdadeiro, impulso que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe; significa um julgamento.
O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós).
Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, eles se afastam. Nada dizem, não reclamam. Afastam-se. Quem não os sabe “ler” pensa que “eles não estão ali”, “saíram” ou “sei lá onde o gato se meteu”. Não é isso! É preciso compreender porque o gato não está ali. Presente ou ausente, ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
O gato vê mais, vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente ao nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério.
Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precisa de promoção ou explicação os assusta. Ingratos os desgostam. Falastrões os entediam. O gato não quer explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda a natureza, aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato.
Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração e yoga. Ensina a dormir com entrega total e diluição no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase quinze minutos) se aquecendo para entrar em campo. O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, ao qual ama e preserva como a um templo.
Lições de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, o escuro e a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.
Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gesto e senso de oportunidade. Lição de vida e elegância, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências ou exageros e incontinências.
O gato é um monge portátil sempre à disposição de quem o saiba perceber.