sábado, 26 de julho de 2008

O documentário e a ficção


Encontros Bravo! Fnac

Os cineatas João Moreira Salles e Bruno Barreto são os convidados do debate de lançamento da edição de agosto de BRAVO!, que acontece no dia 14/8, às 20h, na Livraria Fnac de Pinheiros. Com mediação do repórter André Nigri, autor da reportagem de capa Eu vi um Brasil no Cinema, o debate pretende discutir a influência da linguagem e dos temas do documentário e o cinema de ficção feito hoje no Brasil.


Quando: Quinta-feira, 14/8, às 20h
Onde: Fnac Pinheiros - Praça dos Omaguás, 34 - São Paulo - Tel 11 3579-2000
Quanto: Grátis 

Mendigos Culturais by Santiago

É muito bom quando alguém com quem a gente já simpatiza nos surpreende. O Santiago Nazarian era pra mim só o rapaz fofo que trabalhou comigo na SPFW, mas nunca trocamos muitas palavras. Ele era colunista do Journal, chegava na redação, escrevia seu texto, socializava com o pessoal e ia embora. Eu gostava das suas colunas, que tinham um olhar irônico e estimulante. A gente estava ali, no meio da semana de moda, no meio do pessoal mais descolado, e suas palavras se encaixavam perfeitamente no modelo do jornal, com um tom engraçadinho e palatável, mas riam de tudo aquilo, riam da possivelmente infrutífera busca de um sentido naquilo tudo e tentavam fazer as pessoas pensarem. Lembro de um texto que ele escreveu, durante a temporada de janeiro da SPFW, em tom auto-biográfico, dizendo que vivia naquele mundo de glamour, sofisticação e sonho, e quando chegava em casa encontrava a geladeira vazia e um bilhete da faxineira cobrando o salário atrasado há tempos. Soco no estômago e nó na garganta. Na última edição - a coluna chamava Última Fila e a proposta dele era olhar para as pessoas que não são alvo dos flashes -, ele perguntava se não era melhor cada um procurar a sua própria Gisele Bundchen, do que ficar na multidão seguidora da modelo inatingível, mas que não passa de uma pessoa comum.

Depois, descobri que ele é um grande escritor, um dos melhores de sua geração. E tem um blog muito bacana, divertido e pensante - não desses que só tiram sarro da roupa e da forma física de celebridades, e o dono ainda sai na Vejinha (tantas coisas e pessoas mais legais pra divulgarem)... Mas isso tem um pouco a ver com o que o Santiago escreveu no blog dele há alguns dias, um post muito legal, mais uma vez trazendo a gente pra realidade. Chama Mendigos culturais. Segue um trechinho para dar uma idéia:

"Todos os artistas que têm de implorar por um pouco de atenção, por um pouco de reconhecimento, chamar o público como se estivesse pedindo um favor, pedindo desculpas, entregando sua obra de graça.

(...) Nem coloco em questão o fato dos Mendigos Culturais não conseguirem viver só de arte. Esse não é o ponto. A questão é ter de mendigar um público. Obrigar os amigos, a família a assistir sua peça, deixar convite de graça, forçar a comprar o livro... Por isso tenho cada vez mais resistência a participar de eventos literários, fazer noites de autógrafos... (Festa de aniversário já não faço há anos, pior que mendigar público é mendigar amizade.)"

Leia o resto lá: Amor & Hemácias

Meus sinceros votos de paz profunda...

Eu não sou das pessoas mais otimistas, acho que já deu pra perceber. Esse negócio de Pollyana, de tentar ver sempre o lado positivo das coisas, mesmo que seja a maior desgraça e eu esteja me afogando na lama, é mais uma atitude conformista do que de otimismo. O que não tem remédio, remediado está...


Mas otimismo mesmo, acreditar que tudo vai ser melhor um dia, isso não. Eu não acredito que as coisas vão melhorar, que a humanidade vai ser mais solidária e igualitária, que a violência vai acabar, que alguém um dia vai pensar mais no próximo do que em si mesmo. A gente ouve todo mundo falando: a violéncia hoje está demais, a fome no mundo está demais, a corrupção hoje está demais. Tudo bem, todas as afirmações estão corretas, a não ser por um detalhe: o tempo presente. 


Gente, a violência, a fome, a corrupção, as guerras, as diferenças sociais SEMPRE existiram, não são de HOJE. É só olhar pra trás, pro século passado, pra Idade Média, pra Grécia Antiga, pra época de Jesus, pras tribos indígenas, pra Idade da Pedra... O homem é individualista por natureza e sempre vai querer puxar a brasa pra sua sardinha. Sim, existe o bem, sim. Todo mundo é solícito, mas só até o ponto em que isso não afete os interesses pessoais.


Por que você acha que o homem se organizou no começo dos tempos para viver em comunidade? Por que queria ser amigo da galera? Dez pessoas juntas se defendem com muito mais facilidade de um animal selvagem, conseguem caçar mais bichos e coletar mais alimentos, conseguem proteger e cuidar melhor dos filhotes. A partir do momento em que essas dez pessoas vêem que outro grupo de dez pessoas começa a caçar os bichos, colher as frutas e procurar as fêmeas (ou os machos...) na área que antes era só delas, começam as guerras. Isso sem contar os conflitos porque um dos membros do grupo guardou a fruta (ou a fêmea) mais bonita e gostosa só pra si.


Quantas milhares de gerações já passaram pela Terra? E você lembra de alguma época em que o homem viveu em perfeita harmonia e paz?


Não quero desanimar ninguém. Quem me conhece sabe que eu não sou uma pessoa mau-humorada e de mal com a vida. Mas temos que encarar os fatos e, já que é assim, relaxa e goza.


Ps.: Esse era pra ser um post positivo, alegre, feliz e lexotanico, a pedidos e para falar da nova revista onde eu comecei a trabalhar, cujo tema é bem-estar e sustentabilidade. Durante o horário de expediente tudo bem, transmito minhas vibrações mais positivas e meus sinceros votos de paz profunda, mas aqui.... nããõooo... eu não consigo, eu não consigo, eu não consigo.... sorry.... pra que apaziguar se a gente pode atormentar?  

Por que é tão escuro aqui?


Esse é o último final de semana para assistir a peça A Coleira de Bóris, de Sergio Roveri, dirigida por Marco Antonio Rodrigues. Eu fui ontem e recomendo muito.


Nicolas Trevijano e Rafael Losso interpretam os personagens presos em um lugar que não se sabe o que é. A cenografia, composta apenas por  fios de nylon transparentes e jornais no chão, compões uma bela imagem em conjunto com a iluminação, determinando o espaço da prisão e o lado de fora dela.


Um dos personagens está naquele lugar há muito tempo e já se acostumou, o outro acaba de chegar, diz ter sido capturado durante a tentativa de travessia para algum lugar onde a vida seria melhor, e quer sair dali. 


O ritmo intenso de ação no início, com movimentos sincronizados de capoeira e luta, é acompanhado por muitas perguntas e um diálogo rápido, travando um embate em que o acomodado e o inquieto se desafiam e tentam dominar um ao outro. Ao longo do espetáculo, o ritmo e as diferenças ente eles vão diminuindo, mas os questionamentos continuam. Uma história sobre uma mulher cega com um cão complementa a reflexão sobre viver em lugares escuros por escolha própria, o aprisionamento, a dependência, a impotência auto-imposta e a relação entre as pessoas.  A gente só vê o que a gente quer, mas será que o que vamos encontrar além disso é melhor mesmo?


Em um trecho muito bom eles discutem porque as pessoas que os prenderam fizeram isso. Não lembro exatamente as palavras, mas era mais ou menos isso:

- Se você fosse eles e eles fossem você, você faria a mesma coisa com eles.

- Não faria, porque eles não fizeram nenhum mal pra mim.

- Mas se você fosse eles, acharia que eles fizeram mal pra você.


O tipo de encenação e a interação entre os dois personagens me lembrou o espetáculo O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando Arrabal, que assisti há algum tempo, com Paulo Vilhena e Beto Bellini, dirigida por Haroldo Costa Ferrari


Para quem não se liga em história linear, com tempo, espaço, começo, meio e fim definidos, e gosta de sair do teatro sem saber pra que lado ir, porque o que foi visto continua dominando o pensamento por um bom tempo, é uma boa pedida. Os dois atores também são ótimos e dão um show! Fiquei com vontade de ver de novo...


Direção: Marco Antonio Rodrigues
Com: Nicolas Trevijano e Rafael Losso
Texto: Sérgio Roveri
Duração: 60 minutos


Quando: Sábado, às 21h, e domingo, às 19h (últimas apresentações)

Onde: Espaço Satyros 1 - Pça. Franklin Roosevelt, 214- Tel 3258-6345

Quanto: R$ 25


* Foto de Lenise Pinheiro

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um clima otimista de aniversário

quero ver você nao chorar , nao olhar para trás, nem se arrepender do que faz, quero ver o amor vencer, mas se a dor nascer , voce resistir e sorrir, se você pode ser assim, tão enorme assim, eu vou crer, que o natal existe, que ninguém é triste, que no mundo há sempre amor, bom natal um feliz natal, muito amor e paz pra você, pra você...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Galera

Li ontem à noite. Além de escrever muito bem e ser inteligente, ele é lindo. 


Dá pra baixar » Download gratuito de versão em PDF 


E o site dele aqui.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Cada um com seus problemas

Na sexta-feira assisti um filme que achei ruim, "Uma garota dividida em dois". Conta a história de uma garota do tempo de um canal de TV local, de uns 20 e poucos anos, que se apaixona por um escritor de sucesso casado e com o dobro da sua idade. Os dois começam a ter um caso que termina depois que a menina já realizou todos os tipos de peripécias sexuais com o velho, e ele acaba enjoando dela. Só que ao mesmo tempo um jovem herdeiro milionário, que já tinha uma rixa com o escritor, se apaixona pela ninfeta e faz de tudo para conquistá-la. Ela não dá trégua e prefere ficar com o coroa. Depois que é abandonada e fica deprimida e largada na cama sem comer, é o rapaz que vai consolá-la. Eles acabam ficando juntos, mas o ciúme doentio dele, por considerar que o cara perverteu sua mulher, o leva a um ato extremo. No final, quem se ferra é a menina e o filme termina com um trocadilho tosco.


O nome não tem muito a ver, porque em nenhum momento a menina estava dividida, ela sabia o tempo todo que queria ficar com o velho e estava apaixonada por ele. A verdade é que ela não teve escolha, e quando viu que o cara não ia abandonar a mulher porque "não tinha nada contra ela" (existia no casamento algo como um pacto de cegueira: eu finjo que não vejo e vc não fala nada, assim continuamos levando nossa vida feliz de casal bem sucedido), resolve ceder às investidas do riquinho mimado, que "a amava e só queria o seu bem" - o cara sempre teve tudo e ela era a primeira que estava lhe dizendo não, mas, como água mole em pedra dura...


No final, os ricos se dão bem, a sociedade fica escandalizada com "barbaridades sexuais envolvendo pessoas respeitáveis" e os inocentes se fodem.


Ruim, mas c' est la vie...

Cartas a um jovem poeta

"Mas tudo o que talvez um dia ainda seja possível para muitos o solitário pode, já agora, preparar e e construir com suas mãos, que erram menos. Por isso, caro senhor, ame sua solidão e suporte a dor que ela lhe causa com belos lamentos. Pois os que são próximos ao senhor estão distantes,  é o que diz, e isso mostra que o espaço começa a se ampliar à sua volta. Se o próximo está longe, então o que é distante vaga entre as estrelas, na imensidão. Alegre-se com seu crescimento, para o qual não pode levar ninguém junto e seja bondoso com aqueles que ficam para trás, seja seguro e tranquilo diante deles, sem perturbá-los com suas dúvidas nem assustá-los com uma confiança ou alegria que eles não poderiam compreender. Procure constituir com eles algum tipo de comunhão simples e fiel, que não precise ser alterada à medida que o senhor mesmo se modifica cada vez mais. Ame neles a vida em uma outra forma e seja indulgente com pessoas mais velhas que temem a solidão na qual o senhor tem confiança."

Rilke