quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Meu trabalho é deixar o mundo mais bonito

Eu adoro criancinhas que andam por aí fantasiadas. Fico feliz quando encontro no supermercado ou no shopping um mini Homem-Aranha, um Superman mirim, uma fadinha ou uma princesa com saia de tule. E essas crianças não estão nem aí, não sentem vergonha e não se reprimem, pelo contrário, se sentem o máximo. Fantasiar estimula a imaginação e a formação da personalidade e da identidade da criança. Quem não lembra do garotinho de cinco anos que, vestido de Homem-Aranha, salvou a irmã de um incêndio em Santa Catarina? Tudo bem que foi um caso extremo e perigoso, mas é um exemplo de como a roupa influi, desde cedo, na auto-imagem e na noção de poder pessoal.
O problema é que as pessoas crescem e a maioria delas não pode mais sair por aí descaradamente fantasiada todos os dias – há exceções, como o pessoal do cosplay, artistas tipo Marilyn Manson e Elke Maravilha e gente com personalidade suficiente pra criar um
personagem próprio. Se a gente parar pra prestar um pouco de atenção em quem passa na rua, vai perceber que todo mundo se veste mais ou menos igual (acho que no mínimo 80% das pessoas usam calça jeans). Se vestir como a maioria – o que significa geralmente seguir as "tendências" - é um jeito de estar em segurança, de se mostrar igual pra não ficar de fora do grupo, de não errar. As crianças crescem e passam a ter medo do julgamento alheio, a se censurar com medo da censura dos outros, deixam de expressar o que realmente são e querem e se submetem ao pensamento comum.
No andar onde eu trabalho, na hora do almoço de ontem, estavam 25 pessoas, das quais 5 eram homens. Das mulheres, só uma estava de vestido, duas de legging e todas as outras de calça jeans e blusinha, muito parecidas umas com as outras. No elevador, as pessoas comentavam sobre o vestido longo alaranjado de uma moça que estava no térreo, em tom de gozação dizendo que parecia um sol. Eu não reparei na roupa da mulher, mas ela me cumprimentou de um jeito simpático e pareceu estar se sentindo bem e feliz. Acho que quando as pessoas se sentem bem com elas mesmas - e o modo
como estão vestidas influi muito nisso – elas conseguem transmitir isso para os outros. Ficam mais receptivas, mais alegres, mais expressivas e mais auto-confiantes. Quem age de maneira agradável, acaba contagiando os outros, que provavelmente responderão também de forma positiva (o Marquinhos da Mercearia é uma exceção, assim como pessoas que tiveram um dia muito ruim, mas mesmo essas às vezes são flexíveis).
Se sentir mal vestido pode acabar com a festa de uma pessoa. Por outro lado, uma produção especial em um dia comum pode até mesmo fazer alguém se sair melhor no trabalho. Por isso, escolher uma roupa deve ser um ato de carinho com a gente mesmo. A roupa que a gente usa é a forma de expressar pro mundo o que a gente é logo no primeiro contato. O que a gente é ou o que a gente quer ser. E, por isso, se vestir não deixa de ser uma forma de fantasiar. Portanto, pra se sentir bem com uma roupa é preciso saber primeiro o que a gente quer. E isso pode variar com o passar dos anos, os meses e dos dias. Eu posso acordar de manhã querendo me sentir uma femme fatale
e caprichar no salto alto e na maquiagem, ou posso querer só estar confortável e colocar um All Star e um vestido solto. O importante pra se sentir bem e parecer bem é conhecer a si mesmo e ter bom senso.
Outra coisa importante é saber diferenciar moda de modismo e de estilo. Moda é como o vestuário expressa o modo de vida e o pensamento de um grupo de pessoas em uma determinada época e em um determinado local. É o vestuário visto como parte da cultura e da história. Estilo tem a ver com personalidade, é como a forma de se vestir transmite uma imagem e um jeito de ser. Cada pessoa tem um estilo próprio, que baseia na moda. Já os modismos tem a ver com consumo e com mercado. São produtos criados para serem vendidos como objetos de desejo, como must have, e mudam a cada estação para estimular o consumo. A moda é feita por artistas, que são os estilistas que conseguiram se expressar por meio de suas criações e, por isso, ficaram eternizados. Os modismos são feitos pelas novelas da Globo, que vendem produtos que vão encher as vitrines da 25 de março por dois meses e depois desaparecer.
Uma pessoa que
se conhece e tem personalidade formada sabe usar, com bom senso, a moda a seu favor para construir um estilo próprio, podendo até recorrer eventualmente aos modismos, mas de forma própria e consciente. Ao contrário, quem não tem segurança de si mesmo acaba se tornando vitima dos modismos e, por mais que siga as últimas tendências, não se sentirá completamente bem ao escolher um modelo para sair de casa de manhã ou para ir a uma festa.
Quem se veste de acordo com o que sente – e não de acordo como que os outros dizem que é certo -, como as criancinhas fantasiadas, acaba se sentindo melhor e transmite isso para o mundo. A roupa tem que ser uma forma de comunicar o que está dentro da gente, porque a maior beleza não tem que estar no vestido, mas na pessoa que o usa. E pra isso é preciso sinceridade e honestidade consigo mesmo. É por isso que tem gente que consegue brilhar mesmo usando um jeans e uma camiseta branca.
O meu trabalho é mostrar pras pessoas as opções que elas têm para montarem suas próprias fantasias. E mostrar que elas podem ter liberdade para combinar essas opções para serem o que quiserem, como as criancinhas fantasiadas. E, assim, fazê-las sentirem-se mais bonitas e mais seguras, para que se relacionem melhor umas com as outras e deixem o mundo mais bonito.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Resolução de ano novo atrasada

Tirar a maquiagem todas as noites, antes de dormir.

O Marquinhos é mesmo um grosso...

Mas eu não desisto e amanhã vou lá buscar o livro que quero.
E ele vai ver só.
:P

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Solidão

Hoje, vi no cinema uma cena que, pra mim, define perfeitamente a solidão, no filme Foi Apenas um Sonho, do diretor Sam Mendes (de Beleza Americana, coincidentemente). April, a personagem da Kate Winslet, depois de preparar, como uma esposa exemplar, o café da manhã pro marido (Leonardo Di Caprio), que sai pra trabalhar, vai lavar as louças na pia e chora. Assim não dá pra entender bem, mas no contexto do filme é maravilhoso e dá um aperto no peito. Não é uma solidão de estar sozinha, mas de pensamento, de acreditar em coisas que ninguém acredita, de ter esperanças em coisas que todo mundo acha loucura e não ver sentido em outras que são tidas como certas, e não ter com quem compartilhar tudo isso, nem com quem achava que podia. Sei lá, vai ver que é porque eu já me senti assim. É o momento em que ela se pergunta "o que eu estou fazendo da minha vida?".

domingo, 1 de fevereiro de 2009

2046

Love is all a matter of timing.
It´s no good meeting the right person too soon or too late.
If I´d live in another time or place...
my story might had a very different ending.

Chow Mo Wan, em 2046, de Wong Kar Wai


Pelo menos

Uma coisa pra me fazer rir.
Tocou a campainha, um toque longo, de quem está ansioso pra entrar. Vou rápido abrir a porta. Quem será?
Abro e olho pra fora, ninguém. Olho pra baixo. Um bebezinho da altura dos meus joelhos com o braço estendido, tentando alcançar a campainha. Com chupeta na boca e cara de assustado. Fico olhando pra ele e ele olhando pra mim. O pai aparece e fala, tentando fazer voz de bravo, "É, moleque, tá fazendo o que aí? Coisa feia!". Dou risada e fecho a porta. Um minuto depois a campainha toca de novo. Abro e não vejo ninguém. O pai deve ter ensinado que sair correndo faz parte da brincadeira.

Hoje

Não quero escrever. Estou triste de uma tristeza que não é nada inspiradora. E isso depois de um final de semana tão bonito. Perda de tempo. Agora tenho certeza de que as piores traições são as cometidas contra a gente mesmo. São as que vêm de dentro e vão junto pra onde a gente for.