quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sabe uma dúvida que eu tenho?

Se eu gosto de rock porque já tava no meu dna ou se eu que resolvi gostar daquilo porque achei legal.

Melodrama blues

"Algumas pessoas acabam se encontrando. E é como se conhecessem desde sempre. Algumas pessoas desistiram de botar suas fichas na máquina e choram assistindo People and Arts de madrugada. E cultivam milhões de novidades pra dizer umas às outras. Algumas pessoas "jogaram fora o guardanapo pra comer com a mão". Fazer o quê. Algumas pessoas decidiram se sofisticar. E produzem coisas importantes. E detestam o trabalho solo do Frejat. Algumas pessoas espremem o cérebro e se divertem. E bolam apelidos engraçados pras pessoas. E nutrem idéias mirabolantes. E seus sonhos grisalhos. E seus blogs sangrando. Algumas pessoas são capazes de elogios desconcertantes. E nunca esquecem o final da piada. E citam cenas inteiras de seus filmes preferidos. E racham garrafas de conhaque só pra assistir ao show dos Bêbados Habilidosos. Que resolveram tocar suas ilíadas vagabundas quase clandestinamente. Assim. Apenas pra algumas pessoas. Que riem de si mesmas como se rezassem. Que insistem em recolher as peças só pra espalhá-las de novo. Algumas pessoas que construíram isso como operárias do próprio privilégio. Que custa caro. As coisas que importam. E as que não se explicam. Algumas pessoas se debatem pra não descuidar da defesa mas desde há muito descobriram que só sabem jogar no ataque. E permanecem saudavelmente inquietas mesmo se o time estiver ganhando. Algumas pessoas se emocionam. E deixam o melhor do seu abandono em cada abraço que fica. Algumas pessoas realmente direcionaram suas vidas. E subiram nos ombros dos seus ídolos e dos seus medos pra poder enxergar depois do muro. Só pra ver aonde a bola caiu. E continuar brincando. Desfrutar desse indescritível prazer que é chutá-la mais longe". 

(Marcelo Montenegro)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Delicadeza

A Priscila Nicolielo é uma jovem dramaturga que me conquistou pela sensibilidade e poesia do seu texto "Entulho", sobre o qual já escrevi aqui, e depois pelos posts de seu blog, sempre cheios de delicadeza, mas fazendo a gente pensar. 

No dia 25 de outubro, ela vai apresentar o texto "O rosto da vizinha da cama indiscreta", no DramaMix, das Satyrianas. Segundo ela diz no blog, "fala das relações superficiais que algumas pessoas escolhem levar" e será dirigido pelo Ruy Filho.

Eu tive a chance de presenciar uma primeira leitura informal no domingo, no Parlapatões, e digo que vai valer a pena assistir.

O ROSTO DA VIZINHA DA CAMA INDISCRETA - Sábado (25 de outubro), às 10h, na Praça Roosevelt

88 dicas para eles

Do blog da minha amiga Carol, ótimas dicas para os homens. 
Leiam, divirtam-se e façam bom proveito. Aqui.

A essa hora?

Que tal sair do piloto automático e começar a sentir um pouco mais? As pessoas também existem quando não estão por perto, mesmo que você não se lembre disso. 
É, eu sei, eu também preciso aprender...
Mas eu tenho comido minha salada por partes: primeiro só o tomate, depois só a cenoura, depois só a batata... pra poder saber que gosto cada coisa tem. E descobri que a fumaça dos cigarros sempre dança no ritmo da música que está tocando. E quando eu olho o sangue no asfalto da menina que se jogou pela janela do prédio, sinto o calafrio da queda. 
Mas nada disso importa... A gente precisa correr pra pegar o ônibus e não se atrasar pro trabalho, e não dá tempo de parar pra descobrir porque o cachorro late tanto pro menino deitado no chão. E, mesmo que você grite na janela, o barulho do trânsito vai abafar a sua voz. No máximo, seu eco vai ser ouvido pelos loucos, mas esses nunca vão conseguir ser felizes de verdade.

Pra que viver então?

Eu posso não mudar o mundo, mas se conseguir mudar o jeito de uma única pessoa olhar pras coisas já tá bom. Nem que essa pessoa seja eu mesma.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Vê se pára de pensar bobagem!


Dá pra confundir o amor com o ódio?
Essa é a pergunta que a personagem da Maria Manoela faz pro seu agente, representado pelo Nilton Bicudo, no excelente espetáculo O Natimorto - Um Musical Silencioso, do Lourenço Mutarelli, dirigido e adaptado pelo Mário Bortolotto, que assisti domingo.
Eles estão falando sobre cartas de tarô, e ele responde que sim, porque as figuras que representam ambos os sentimentos são muito parecidas.
Na peça, o cara propõe a ela que fiquem trancados num quarto de hotel, vivendo sozinhos para que se protejam do mundo e protejam um ao outro. Acho que isso tem a ver com o ódio que nasce do amor. Às vezes a gente ama tanto alguém que queria poder ter essa pessoa só pra gente, fechados e protegidos o tempo todo, mas como isso é impossível, a gente se sente impotente e passa a odiar o amor que sente. E a odiar a outra pessoa e a odiar a gente mesmo por sentir aquilo. Porque às vezes, o que a gente sente é mais forte do que a nossa vontade. Há algum tempo escrevi sobre um cara por quem estava apaixonada: "Eu o odiei quando percebi que estava me fazendo perder o controle." E essa sensação é pior quando a gente não é correspondido. 
Hoje eu tive um dia ruim. Fiquei pensando que a gente sempre cria expectativas sobre outras pessoas e nem sempre elas estão prontas para supri-las. Na verdade, acho que quase nunca as pessoas atingem nossas expectativas. Por que a gente quer que elas façam o que a gente faria, só que nessas horas a gente não vê que também não faria aquilo se estivesse no lugar delas, se é que já não estivemos. Quantas pessoas a gente já não decepcionou simplesmente por estar olhando pra outro lado no momento em que ela estava olhando pra gente?
Quando o agente propõe que eles se isolem do mundo, a cantora diz: mas não é egoismo da sua parte, já que minha voz é tão maravilhosa, privar as outras pessoas de ouvi-la? E então o cara se tranca e ela continua saindo, investindo na carreira e querendo mostrar sua voz para o mundo. Mas será que ela também não está sendo egoísta? Em vez de dar o melhor de si para alguém que queria protegê-la, prefere ter uma platéia cheia de gente para aplaudi-la.
Isso me fez pensar nessa obra do artista plástico Iran do Espírito Santo, chamada Buraco de Fechadura. Feito de metal, em formato convexo, esse buraco de fechadura reflete a própria imagem de quem olha para ele. Se todo mundo tivesse um desse em casa, talvez as pessoas sofressem menos. E, talvez, a melhor solução seja não esperar nada de ninguém, pelo menos não antes de olhar pro nosso buraco de fechadura.

Ps: O espetáculo fica em cartaz até 2 de novembro, aos sábados e domingos, no Espaço dos Parlapatões. O texto do Mutarelli é excelente e a atuação do Nilton é sensacional. Imperdível mesmo. O mesmo texto também foi adaptado para o cinema, com a Simone Spoladori e o próprio Mutarelli atuando, mas não sei quando estréia. Aqui, só pra dar um gostinho.