segunda-feira, 9 de junho de 2008

Mais sobre gatos

O gato não oferece serviços. Ele se oferece. Claro que ele quer carinho e abrigo. O amor não é de graça. Como todas as criaturas puras, os gatos são pragmáticos. (...)


(...) Lobos e coiotes em estado selvagem são aceitáveis. O que deu tão errado com o cachorro doméstico? O homem moldou o cachorro doméstico à sua pior imagem... Virtuoso aos seus próprios olhos como uma multidão em um linchamento, servil e maldoso, cheio das piores perversões croprofágicas... e que outro animal tenta transar com a nossa perna? A pretensão canina à nossa afeição fede a sentimentalidade fraudulenta e fingida.


Não sou uma pessoa que odeia cães. Odeio aquilo em que o homem transformou o seu melhor amigo. O rosnado de uma pantera, sem dúvida é mais perigoso do que o rosnado de um cão, mas não é feio. A fúria de um gato é bela, incandescente com a pura chama felina, todo o seu pêlo eriçado lançando fagulhas azuladas, os olhos crepitantes. Mas o rosnado de um cão é feio, o rosnado de uma multidão de brancos racistas no linchamento de um paquistanês... o rosnado de alguém que usa um adesivo "Mate uma bicha por Jesus", um rosnado hipócrita e nervoso. Quando você vê esse rosnado, está olhando para algo que não tem rosto próprio. A fúria de um cão não é dele. É ditada por seu treinador. E a fúria de uma multidão em um linchamento é ditada pelo condicionamento.


Willian Burroughs - O gato por dentro

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