terça-feira, 4 de novembro de 2008

E eu tostei na praia...

Tudo culpa do João Moreira Salles! Não, ele não estava comigo (infelizmente, porque eu pago um pau pra esse cara. Foi ele quem fez o filme mais lindo do mundo, na minha opinião, o documentário Santiago, sobre o qual já escrevi aqui).
O que aconteceu foi que comecei a ler uma matéria que ele fez para a revista Piauí (outro genial projeto dele), sobre o caseiro Francenildo dos Santos Costa, peça chave na queda do Pallocci, em 2006. João não é jornalista, é documentarista, e, pelo pouco que sei sobre ele, imagino que a excelência que conseguiu atingir na narrativa escrita deva-se em grande parte à experiência na construção de documentários.
João sabe falar como poucos sobre pessoas. E, como bom documentarista - que não deixa de ser uma forma de jornalismo - mas como raros jornalistas sabem fazer, investiga, pesquisa, cava informações por todos os lados, para construir uma história da forma mais fidedigna possível. Ler sua matéria dá a impressão de que ele é onisciente e onipresente, testemunha ocular de tudo o que conta, pois narra os acontecimentos de diversos pontos de vista e fatos que aconteceram simultaneamente em lugares e com pessoas distintos. Isso, ele consegue com suas entrevistas, que parecem ter sido feitas com todas as pessoas que possívelmente tenham informações valiosas sobre história, desde um porteiro, ou um motorista, ou uma copeira, até o ministro, o presidente.
Mas, ao mesmo tempo em que é essencialmente jornalistico, denso, completo e recheado de informações importantes, o texto de João consegue ser agradável, leve e prende a atenção de quem lê. Como um daqueles romances que você começa a ler antes de dormir e, mesmo morrendo de sono, não consegue largar.
Resultado: 11 páginas da Piauí lidas de uma vez só, debaixo do sol das 14h. Imaginem a cor que eu fiquei, depois de mais de um ano sem tomar sol.
Por coincidência (ou não), estou lendo também o livro Fama e Anonimato, de Gay Talese. Esse sim jornalista, mas de um olhar clínico para perceber o que está além da aparência e um faro apurado para investigação. Assim, ele construiu perfis que retratavam seus personagens - como Frank Sinatra, mas também homens comuns, operários que construiram uma ponte em Nova York - com tantas minúcias, a ponto de em alguns momentos conseguir dizer até mesmo o que estavam pensando. O cara se infiltrava nos ambinetes e ficava observando, conversando com as pessoas e, como se não quisesse nada, conseguia informações importantes. Ele chegou a trabalhar na construção da ponte, junto com os operários, dormindo e comendo com eles por meses, só para ter a idéia exata do que seria aquilo, como eles eram, viviam e pensavam.
Esses são caras que me servem de exemplo, e ao mesmo tempo me intimidam. Mas eu sou corajosa e sei que um dia vou conseguir.

Ps: Para completar, ontem, antes de dormir, liguei a TV e estava passando Capote. Dormi no meio, mas deu pra relembrar como o cara era deliciosamente manipulador. Adoro!

Dá pra ler a matéria O Caseiro aqui ó.

2 comentários:

Joao Gabriel disse...

Tb adoro essa matéria. E o cara.

Pollyana Barbarella disse...

Eu sei, e ainda tenho esperança de que um dia vamos conseguir tomar uma cerveja (ou um suco!) com ele. :)
Aquela história do documentário não ter finalidade, que ele comentou na Flip, ainda está entalada na minha garganta. Preciso esclarecer isso com ele! hehehe
Beijos