segunda-feira, 14 de julho de 2008

Dele para ela

Não, eu não entendi tudo errado. Você quer ser vento, água, fogo. Mas esse estado plasmático, esse movimento incessante, essa sempre iminente fuga, só vão fazer a saciedade que você busca continuar escapando por entre seus dedos, como o ar, o líquido e a chama. Por que o concreto te assusta? A terra pode não ser uma carga tão pesada quanto aparenta. Seca, se transforma em areia, cujos grãos são levados pela brisa, ou por um sopro, numa nuvem etérea e fugaz. Também pode ser um castelo, uma figura qualquer, e ganhar as formas que você desejar. Depois, se transformar em outra, e outra, e outra, substituindo seu corpo como matéria-prima para sua inconstância. Você não vai entender isso agora, porque se eu não fui capaz de te fazer parar de olhar para os lados, não serei capaz de estimular em você as enzimas necessárias para a digestão destas palavras. 

Queimar uma história e querer ter páginas em branco para começar de novo é fácil. Mas não esqueça que depois de lida, ela se incorpora ao leitor e continua nele sua vida, mesmo que as páginas tenham sido destruídas. E é disso que as pessoas são feitas, das histórias, mas das assimiladas, porque as decoradas, cedo ou tarde, acabam esquecidas. Você pode tentar se esconder nas entrelinhas, no seu léxico, nos seus signos próprios, no braile que meus dedos não decifram, mas esse hermetismo disfarçado de liberdade não vai nunca te deixar ir além da página 5 de histórias que poderiam te mostrar o final feliz que você procura tanto.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Dela para ele" talvez?

Pollyana Barbarella disse...

Depende...