sábado, 26 de julho de 2008

Por que é tão escuro aqui?


Esse é o último final de semana para assistir a peça A Coleira de Bóris, de Sergio Roveri, dirigida por Marco Antonio Rodrigues. Eu fui ontem e recomendo muito.


Nicolas Trevijano e Rafael Losso interpretam os personagens presos em um lugar que não se sabe o que é. A cenografia, composta apenas por  fios de nylon transparentes e jornais no chão, compões uma bela imagem em conjunto com a iluminação, determinando o espaço da prisão e o lado de fora dela.


Um dos personagens está naquele lugar há muito tempo e já se acostumou, o outro acaba de chegar, diz ter sido capturado durante a tentativa de travessia para algum lugar onde a vida seria melhor, e quer sair dali. 


O ritmo intenso de ação no início, com movimentos sincronizados de capoeira e luta, é acompanhado por muitas perguntas e um diálogo rápido, travando um embate em que o acomodado e o inquieto se desafiam e tentam dominar um ao outro. Ao longo do espetáculo, o ritmo e as diferenças ente eles vão diminuindo, mas os questionamentos continuam. Uma história sobre uma mulher cega com um cão complementa a reflexão sobre viver em lugares escuros por escolha própria, o aprisionamento, a dependência, a impotência auto-imposta e a relação entre as pessoas.  A gente só vê o que a gente quer, mas será que o que vamos encontrar além disso é melhor mesmo?


Em um trecho muito bom eles discutem porque as pessoas que os prenderam fizeram isso. Não lembro exatamente as palavras, mas era mais ou menos isso:

- Se você fosse eles e eles fossem você, você faria a mesma coisa com eles.

- Não faria, porque eles não fizeram nenhum mal pra mim.

- Mas se você fosse eles, acharia que eles fizeram mal pra você.


O tipo de encenação e a interação entre os dois personagens me lembrou o espetáculo O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando Arrabal, que assisti há algum tempo, com Paulo Vilhena e Beto Bellini, dirigida por Haroldo Costa Ferrari


Para quem não se liga em história linear, com tempo, espaço, começo, meio e fim definidos, e gosta de sair do teatro sem saber pra que lado ir, porque o que foi visto continua dominando o pensamento por um bom tempo, é uma boa pedida. Os dois atores também são ótimos e dão um show! Fiquei com vontade de ver de novo...


Direção: Marco Antonio Rodrigues
Com: Nicolas Trevijano e Rafael Losso
Texto: Sérgio Roveri
Duração: 60 minutos


Quando: Sábado, às 21h, e domingo, às 19h (últimas apresentações)

Onde: Espaço Satyros 1 - Pça. Franklin Roosevelt, 214- Tel 3258-6345

Quanto: R$ 25


* Foto de Lenise Pinheiro

Nenhum comentário: