Esse é o último final de semana para assistir a peça A Coleira de Bóris, de Sergio Roveri, dirigida por Marco Antonio Rodrigues. Eu fui ontem e recomendo muito.
Nicolas Trevijano e Rafael Losso interpretam os personagens presos em um lugar que não se sabe o que é. A cenografia, composta apenas por fios de nylon transparentes e jornais no chão, compões uma bela imagem em conjunto com a iluminação, determinando o espaço da prisão e o lado de fora dela.
Um dos personagens está naquele lugar há muito tempo e já se acostumou, o outro acaba de chegar, diz ter sido capturado durante a tentativa de travessia para algum lugar onde a vida seria melhor, e quer sair dali.
O ritmo intenso de ação no início, com movimentos sincronizados de capoeira e luta, é acompanhado por muitas perguntas e um diálogo rápido, travando um embate em que o acomodado e o inquieto se desafiam e tentam dominar um ao outro. Ao longo do espetáculo, o ritmo e as diferenças ente eles vão diminuindo, mas os questionamentos continuam. Uma história sobre uma mulher cega com um cão complementa a reflexão sobre viver em lugares escuros por escolha própria, o aprisionamento, a dependência, a impotência auto-imposta e a relação entre as pessoas. A gente só vê o que a gente quer, mas será que o que vamos encontrar além disso é melhor mesmo?
Em um trecho muito bom eles discutem porque as pessoas que os prenderam fizeram isso. Não lembro exatamente as palavras, mas era mais ou menos isso:
- Se você fosse eles e eles fossem você, você faria a mesma coisa com eles.
- Não faria, porque eles não fizeram nenhum mal pra mim.
- Mas se você fosse eles, acharia que eles fizeram mal pra você.
O tipo de encenação e a interação entre os dois personagens me lembrou o espetáculo O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando Arrabal, que assisti há algum tempo, com Paulo Vilhena e Beto Bellini, dirigida por Haroldo Costa Ferrari.
Para quem não se liga em história linear, com tempo, espaço, começo, meio e fim definidos, e gosta de sair do teatro sem saber pra que lado ir, porque o que foi visto continua dominando o pensamento por um bom tempo, é uma boa pedida. Os dois atores também são ótimos e dão um show! Fiquei com vontade de ver de novo...
Quando: Sábado, às 21h, e domingo, às 19h (últimas apresentações)
Onde: Espaço Satyros 1 - Pça. Franklin Roosevelt, 214- Tel 3258-6345
Quanto: R$ 25
* Foto de Lenise Pinheiro
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