quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Do blog da Patrícia

De Simone de Beauvoir para Nelson Algren: "uma vez você me perguntou se eu era do tipo de mulher infantil ou do tipo de mulher razoável. Não creio que eu seja pueril, mas estou certa de não ser muito razoável. Uma mulher razoável não sentiria tão aflitivamente a sua falta. [...] Não, não sou razoável, sou até um pouco fraca. Até a minha volta a Paris, uma certa relutância, um pavor me impediam de admitir este amor em toda a sua força e em toda a sua profundidade. Amá-lo tanto significava que eu posso sofrer terrivelmente por sua causa, quando o deixo, quando você está de mau humor e, principalmente, se você me amar menos. Isto significa que minha felicidade está em suas mãos e, em certo sentido, eu preferiria conservá-la nas minhas. Bem, agora está feito, não posso fazer mais nada, preciso aceitar esta dependência, quero aceitá-la já que o amo. [...] Mas o Canadá, Nova York, as viagens, os amigos, todo o resto, eu abandonaria tudo para estar mais tempo com você. Eu poderia pegar um quarto para mim, você trabalharia tranqüilamente e ficaria sozinho quando o desejasse. E eu seria ajuizada, lavaria a louça, varreria. Eu própria iria comprar os ovos e doces ao rum, e não tocaria em seus cabelos, sua face ou no seu ombro sem sua autorização. Eu procuraria não me entristecer quando o jornal da manhã ou outras razões o deixassem com um humor de cão, eu não entravaria a sua liberdade ... Não responda a isso. Março ainda está muito longe, nada é certo, você verá o que podererá e quererá fazer. Fico aliviada de ter dito isso [...]. Paris, 3 de outubro de 1947". In: Cartas a Nelson Algren: um amor transatlântico 1947-1964. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, pp. 63-64.

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