domingo, 7 de junho de 2009

Ai, como eu sofro! (ou, Vai entender!)- relatos de relacionamentos que estranhamente não deram certo

- Cara, eu tô apaixonado por ela. É a mulher da minha vida. Quero casar e ter filhos com essa garota.
A Marcela já estava se cansando de ouvir essa conversa do Ronaldo, que não virava mais o disco desde que tinha conhecido a sua amiga Camila. A Camila era mesmo incrível. Uma menina descolada, com uns olhos azuis lindos e um sorriso constante que ofuscava tudo ao redor quando dava suas gargalhadas contagiantes. E, além de tudo, era divertida - inteligente e irônica. Até demais pra ele.
Todas as vezes que eles se encontravam em uma dessas saídas pra reunir amigos, ele dava um jeito de ficar perto dela. E conversava, e falava. E ela nada. Depois, ele alugava mais ainda a Marcela. E a Marcela contava tudo pra Camila. Não forçava nada, não fazia propaganda, nem insistia, no fundo nem achava que os dois tinham muito a ver. 
Um dia combinaram de ir a um bar pra assistir Santos x São Paulo, os três e mais um amigo do cara. Depois de algumas cervejas, o jogo acabou e resolveram ir embora. No carro, Camila cochicou pra Marcela: "Quero ficar com o Ronaldo." Quando chegaram na frente do prédio da Marcela, ela disse: "Vocês não querem subir? É cedo ainda e tenho umas cervejas na geladeira." 
A Camila tinha decidido se desenrolar de ouros dois casinhos que já tinha há algum tempo, mas que não iam nem pra frente nem pra trás, e o Ronaldo até que era divertido e bonitão. Tinha um certo charme. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, principalmente quando a gente tá carente. 
Subiram. Ficaram um pouco na sala, a Marcela fazendo um social. Pra deixar os dois sozinhos, depois de uns 15 minutos ela falou que ia pro quarto dormir. Mas ainda tinha o amigo vela. Decidida e sem paciência, a Camila falou: "Então, acho que essa sala tá pequena demais pra nós três. E o mala, em vez de se tocar e cair fora, foi pro quarto tentar se dar bem com a Marcela. Ficou fazendo cafuné no cabelo, falando um monte de bobagens... Tudo errado! Marcela, que sempre teve pavio curto, tratou de dispensar sutilmente o mané: "Quero dormir, sai daqui e não me enche o saco!". O coitado, conformado, foi deitar na cama de solteiro ao lado. 
Na sala tudo aconteceu conforme o esperado e o Ronaldo foi embora contente (e ainda mais apaixonado) quando o dia já ameaçava nascer. Só que homem apaixonado é pior que mulher e a Marcela teve que continuar ouvindo nos dias seguintes a mesma ladainha: "Ela é a mulher da minha vida!". Achava bonitinho, afinal homem apaixonado hoje em dia é coisa rara, e conhecia de outros carnavais o jeito cafageste do amigo. "Pelo menos uma alma masculina convertida", pensava.
Continuaram saindo juntos. Ele mandava mensagens no celular no dia seguinte e se dizia cada vez mais apaixonado. Ela também estava gostando. Conversavam bastante, o beijo era bom e se divertiam juntos falando besteira. Na segunda quarta-feira depois da primeira saída, combinaram de tomar um chope depois do trabalho. Lá pelas 18h, Camila recebeu uma mensagem dele: "Deu um pepino aqui no escritório e vou ter que sair tarde. Depois te ligo". OK. Ela que já estava no pique de sair, ligou pra Marcela e foram com mais uma amiga a um bar num programa de meninas. Uns 15 minutos depois, o celular da Marcela toca: "Ia sair com a Camila hoje, mas deu um rolo aqui e não tenho hora pra ir embora. Fiquei super chateado". "Ah, tudo bem, ela vai entender, acontece". "É, queria encontrar com ela, mas amanhã eu ligo e a gente combina outra coisa". 
Chegou amanhã e Camila recebeu uma mensagem: "Vou viajar no final de semana, mas volto cedo no domigo pra gente passar a tarde juntos." Ela soriu, respondeu que OK e ficou esperando a volta dele. Passou sexta, passou sábado e nenhum contato. Domingo ela mandou uma mensagem pra ele: "E aí, que horas você chega?". A resposta? Nenhuma. Nem no outro dia, nem no outro.
A última notícia que ela teve dele, duas semanas depois, foi que estava passando férias no Nordeste.

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