sábado, 26 de julho de 2008

Mendigos Culturais by Santiago

É muito bom quando alguém com quem a gente já simpatiza nos surpreende. O Santiago Nazarian era pra mim só o rapaz fofo que trabalhou comigo na SPFW, mas nunca trocamos muitas palavras. Ele era colunista do Journal, chegava na redação, escrevia seu texto, socializava com o pessoal e ia embora. Eu gostava das suas colunas, que tinham um olhar irônico e estimulante. A gente estava ali, no meio da semana de moda, no meio do pessoal mais descolado, e suas palavras se encaixavam perfeitamente no modelo do jornal, com um tom engraçadinho e palatável, mas riam de tudo aquilo, riam da possivelmente infrutífera busca de um sentido naquilo tudo e tentavam fazer as pessoas pensarem. Lembro de um texto que ele escreveu, durante a temporada de janeiro da SPFW, em tom auto-biográfico, dizendo que vivia naquele mundo de glamour, sofisticação e sonho, e quando chegava em casa encontrava a geladeira vazia e um bilhete da faxineira cobrando o salário atrasado há tempos. Soco no estômago e nó na garganta. Na última edição - a coluna chamava Última Fila e a proposta dele era olhar para as pessoas que não são alvo dos flashes -, ele perguntava se não era melhor cada um procurar a sua própria Gisele Bundchen, do que ficar na multidão seguidora da modelo inatingível, mas que não passa de uma pessoa comum.

Depois, descobri que ele é um grande escritor, um dos melhores de sua geração. E tem um blog muito bacana, divertido e pensante - não desses que só tiram sarro da roupa e da forma física de celebridades, e o dono ainda sai na Vejinha (tantas coisas e pessoas mais legais pra divulgarem)... Mas isso tem um pouco a ver com o que o Santiago escreveu no blog dele há alguns dias, um post muito legal, mais uma vez trazendo a gente pra realidade. Chama Mendigos culturais. Segue um trechinho para dar uma idéia:

"Todos os artistas que têm de implorar por um pouco de atenção, por um pouco de reconhecimento, chamar o público como se estivesse pedindo um favor, pedindo desculpas, entregando sua obra de graça.

(...) Nem coloco em questão o fato dos Mendigos Culturais não conseguirem viver só de arte. Esse não é o ponto. A questão é ter de mendigar um público. Obrigar os amigos, a família a assistir sua peça, deixar convite de graça, forçar a comprar o livro... Por isso tenho cada vez mais resistência a participar de eventos literários, fazer noites de autógrafos... (Festa de aniversário já não faço há anos, pior que mendigar público é mendigar amizade.)"

Leia o resto lá: Amor & Hemácias

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