segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

De um livro aí...

As regras da natureza

"Se, em nosso espírito, atribuímos a essa época um caráter de arbítrio e violência grosseira, o motivo reside apenas no fato de que tradições, memórias, romances e novelas transmitiram somente casos típicos de violência e brutalidade.


Por que então milhões de homens se mataram reciprocamente, quando cada um sabe, desde que o mundo é mundo, que isso é proceder mal, moral e fisicamente? Porque a coisa era tão inevitável que, praticando-a, eles obedeciam a esta lei elementar, zoológica, que faz as abelhas entremataram-se no outono, e os animais machos exterminarem-se mutuamente. Não há outra resposta a tão espantosa pergunta."

As regras da sociedade

"O principe Vassili sempre falava com indolência, como um ator que recita um papel de uma velha peça teatral. Ana Pavlovna Scherer, apesar de seus quarenta anos, era, ao contrário, cheia de vida e entusiasmo. Este entusiasmo tornara-se para ela uma função social e mesmo quando se sentia abatida, era obrigada a se mostrar entusiasta para não decepcionar os amigos.

Cada convidado cumpria o ritual de saudar esta tia que ninguém conhecia, que não interessava a ninguém e da qual não esperavam nada. Ana Pavlovna ficava assistindo às saudações com uma atenção melancólica e solene, aprovando silenciosamente. A tia perguntava a todos pela saúde, falava de sua própria e da de sua majestade, a imperatriz, que, graças a Deus, hoje estava melhor. Todos os que dela se aproximavam por polidez, afastavam-se com o sentimento de alívio que se sente após haver cumprido um dever enfadonho para não mais lembrá-la o resto da noite."

As regras do indivíduo

"Quando Pierre deixou seu amigo, já passava d euma hora. Era uma dessas noites brancas de junho, uma típica noite de São Petersburgo. Pierre tomou um fiacre com a intenção de recolher-se. Mais quanto mais se aproximava de casa, mais sentia que seria impossível dormir numna noite assim, que lembrava mais o crepúsculo ou a madrugada. Seu olhar perdia-se nas ruas desertas. Continuando seu caminho lembrou-se que o habitual grupo de jogadores deveria estar reunido na casa de Anatólio Kuraguin, depois haveria uma bebedeira que terminaria por sua diversão favorita. "Seria muito agradável ir até lá, pensou. Mas logo lembrou-se da palavra de honra que empenhara ao príncipe Andriei. No mesmo momento, como acontece com as pessoas chamadas 'sem força de vontade', sentiu um forte desejo de, pela última vez, saborear esta vida desregrada e decidiu-se a ir. Considerou, imediatamente, que a palavra dada ao príncipe Andriei nada significava, pois antes já a dera a Kuraguin. 'Afinal', pensou, 'todas estas palavras de honra não passam de convenções, desprovidas de sentido, principalmente quando a gente pensa que pode morrer amanhã ou acontecer-nos uma desgraça, e então não haverá mais honra nem desonra'. Eram-lhe frequentes tais raciocínios que destruíam todas as suas decisões e projetos. Rumou para a casa de Kuraguin."

Guerra e Paz

E a gente ainda acha que é livre...

Nenhum comentário: